sexta-feira, 14 de março de 2014

Canção pra não voltar.

Não sei flutuar nas nuvens como você/Você não vai entender/Que eu não sei voar

Fumava o último cigarro enquanto estava à sua espera. Tic Tac. Uma tragada longa. Seriam duas longas semanas da mesma coisa. Eram três longos anos da mesma coisa. Se perguntava o porque de tantas idas e vindas, mas sabia que era um defeito do ser humano esse de persistir no erro, da dificuldade de abandonar. Amassou o cigarro no cinzeiro e sentiu aquele cheiro de tabaco queimado, a campainha tocou.

 Quase estranhos, um beijo frio. Formalidades (pra que formalidades?), como foi de viagem, tem pizza no forno, café na cafeteira, sim, sem açúcar, etc etc. Os dedos estavam frios, o coração inquieto e chovia lá fora. Mais um beijo frio, chovia ali dentro.

 Os três primeiros dias foram um inferno, dividido entre amor e ódio. Farpas foram trocadas, lágrimas derramadas, juras de amor eterno sussurradas no ouvido enquanto faziam um amor urgente. Depois, cada qual para o seu lado, sempre pisando em ovos, destacando o defeito um do outro. Promessas de ir embora, para sempre dessa vez, pedidos para ficar, mais beijos frios, cigarros por todos os lados. Foram só três dias. Queria que ficasse, mas não queria mais.

 No final da primeira semana, nada tinha mudado. Essa mesma contradição, que machuca. Esperou chegar da padaria – pode perceber, de um modo doído, a sua beleza – e pediu para que se sentasse. Pegou seus dedos calejados e frios. Silêncio. Entre as fumaças, explicou-lhe que sabiam que não iam a lugar nenhum. Que seria sempre assim. Existia o amor, é bem verdade, muito amor aliás, mas eram muito diferentes. Tinham mais uma semana ao lado um do outro, que pudessem ser livres e se amar livremente então. 

Sem passado, sem futuro, apenas um dia de cada vez. E então cada um seguia seu caminho, mas com a lembrança dessa última semana para acalentar seus corações. 

Chegou o último dia daquela semana, um aperto no coração. Haviam dado risada, não discutiram, sem amaram em silêncio, falavam com os olhos, se entenderam. Estavam sendo quem eram, estavam felizes. Viveram seu amor na forma mais puro, mas tinham que ir. No caminho da rodoviária, apenas as mãos entrelaçadas – não havia nada que podia ser dito, não queriam perder aqueles dias. Não havia o que mudar. Hora de ir, um beijo demorado, sem a necessidade de um ‘eu amo você’. Certas coisas não precisam ser ditas. Se foi, se foram. 

Era o primeiro dia de um novo ciclo. Sentiria saudades. Já sentia, de certa forma. Sentia muitas coisas, sentia muito. Mais uma tragada longa, uma tosse seca. Apagou o cigarro, apagou você. Dias se passariam sem nenhum contato, embora o desespero ás vezes batesse forte na porta e a saudade invadisse a cabeça como uma flecha. Dói, essa coisa que chamamos de amor. Dói, esse amor que inventamos para tratar como uma coisa. Os dias passavam lentamente. Lentamente, você passou também. E assim, já é verão novamente. Não se viram, nunca mais. 

A vida às vezes é difícil de se viver, pensou. Mas foi só isso. Difícil de se viver, mas se vive, um dia após o outro. Com sua lembrança já desbotada como uma roupa colorida que fica muito tempo esturricada no sol. Estava com a alma nua, a partir de agora.

Um comentário:

Bell Ferreira disse...

Você escreve com a alma... linda e encantadoramente. Poeticamente... faz do triste algo tão lindo. Me apaixono toda vez que venho aqui! *-*