terça-feira, 17 de setembro de 2013

Uma história de borboletar.

'Mas se você brisa... venha me brisar'

Ainda éramos tímidos um com o outro no primeiro dia que você fez uma das coisas que sabe fazer tão bem: me arrumou, deixando-me irreconhecível. Mas aquele dia não foi o milagre que você fez em mim que me deixou deslumbrada, mas a música que você colocou pra tocar e cantarolava baixinho. Primeiro, Tulipa. Depois, Tiê. Sambinha bom entrou em meus ouvidos também, tão bom quanto silenciosamente o prazer de se identificar com alguém, mesmo sabendo tão pouco. Aliás, esse tão pouco é que nos deixou próximos, pouco a pouco, de letra em letra de cantores que quase ninguém conhecia, de risadas sem nexo, de lembranças prolixas e madrugadas de insônia compartilhando meros devaneios tolos a nos torturar – como canta Zé em uma das músicas que temos que ouvir sempre que nos vemos.

Em uma dessas madrugadas, enquanto lamentávamos nossas dores através das canções – que são também poesia – eu te perguntei por que éramos tão sentimentais, afinal. Você me disse que queria ser mais durão e ser igual aquelas pessoas que a gente vê por aí. Bem da verdade, nós somos privilegiados. Tudo bem que sentimos mais, sofremos mais, fazemos tudo muito mais intensamente, e que parece que as pessoas não ligam muito pra isso – e algumas realmente não ligam mesmo – mas, em contrapartida, vemos beleza onde ninguém vê. Sentimos as coisas de um jeito único.

Borboletamos.

Isso foi o que eu mais aprendi contigo. Em tão pouco tempo, fez com que eu borboletasse por aí. Borboletar, sair do casulo, bater asas de um jeito leve e livre. Livre para ser, pensar e sentir exatamente como fazemos, levando a vida sempre como se a cada canto existisse uma poesia escondida. E sabemos que existe. A gente se diverte cantando na cozinha. A gente nunca tem grana – mas somos ricos, muito ricos. Temos sofá velho e música boa. Temos insônia e lembranças que nos afligem, que dói lá no fundo da alma. Temos nosso drama particular, temos a dor da saudade e a incerteza do caminho que seguimos na vida. Mas seguimos, e lutamos  - sempre com a leveza de borboletar. Alguns pensam que não sabemos nada, outros nos olham como se fossemos loucos, porque falamos de misticismo, Deuses, planetas, fumamos cigarros, não queremos fazer parte daquela mesma panela. Eles estão certos, somos mesmo loucos. Porque é preciso ser louco para sair do casulo e ter coragem de ser quem se é. É preciso uma mente insana para sentir. É preciso coragem para amar,qualquer tipo de amor.


Somos vendaval.

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