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É que a gente se pega em um sábado a tarde rindo sozinha quando sente aquele cheiro. E aquele determinado cheiro – bolinhos de banana da vovó, juro!- me transporta para um outro tempo, um filme vai passando pela minha cabeça – em preto e branco, com a voz de Norah Jones cantando Seven Years – e me vejo sentada, minúscula e de pantufas, em uma mesa de mármore grande, balançando os pezinhos enquanto uma avó corpulenta mexe vigorosamente a colher de pau numa panela. Tudo ali – a cozinha, a avó, as pantufas, a mesa – parece tão aconchegante e feliz, e eu continuo me balançando como se a maior preocupação fosse raspar a panela ou esperar os bolinhos esfriarem.
E assim as tardes iam, as tardes jamais vazias, preenchidas com sessão-da-tarde, sonecas, Nescau e brincadeiras, brigas com os irmãos, pés encardidos, joelhos ralados e doces da boboniere.
Os domingos, ah os domingos, pareciam ser todos ensolarados, mesmo os chuvosos. E ia aquele almoço – macarrão, carne de panela, maionese de batatas e alguma sobremesa para o café – sempre cheio de gente, tias tagarelas, primos se acotovelando sobre a mesa, a avó corpulenta e sorridente e o vô meio quieto, cara de bravo, mas que tinha o melhor abraço do mundo.
E agora nos sábados sozinha almoçando qualquer coisa com qualquer pessoa, me pego rindo ao sentir aquele cheiro, aquele cheiro que era bem mais que bolinhos de chuva com banana. Aquele cheiro era algo como família.
E deu vontade louca de chorar e rir ao mesmo tempo, pois amanhã era domingo-pé-de-cachimbo mas a gente é adulto e não pode se balançar na mesa de mármore ou ralar os joelhos e passar mercúrio, porque na minha época methiolate doía. A gente é adulto, não se lembra desde quando, mas é isso agora – sem sonecas e sessão da tarde. Só vez-em-quando, pra não ser injusta.
E tudo é um filme preto-e-branco que passa na cabeça. Ao som de Norah Jones.